Rota Bioceânica: como Mato Grosso do Sul entra no destino do Pacífico em 2026

Foto: Álvaro Rezende/ Gov MS

Mato Grosso do Sul está no centro de uma obra ambiciosa para a logística e a integração comercial internacional: a Rota Bioceânica, também chamada de Bioceânica de Capricórnio. O corredor vai ligar o Brasil ao litoral do Pacífico, atravessando Paraguai, Argentina e Chile.

A ponte do lado brasileiro encerra o ano com 80% de conclusão e previsão de entrega para o primeiro semestre de 2026. Afinal, por que essa ponte representa uma mudança tão significativa para a economia do país, especialmente para Mato Grosso do Sul?

O Jornal Midiamax reúne uma retrospectiva de 2025 dessa grandiosa obra, cujo custo total é estimado em R$ 472 milhões somente no trecho de Mato Grosso do Sul.

O propósito do concreto
O corredor efetivamente reduzirá tempo e custo do transporte até os portos do Pacífico, além de beneficiar o agronegócio e o setor exportador.

A rota também reduzirá até 17 dias no transporte Brasil-Ásia, consequentemente gerando economia no escoamento de produtos. Vale destacar que a China é um dos principais parceiros comerciais e grande importador de carne produzida em Mato Grosso do Sul.

Para o Estado, a rota representa uma verdadeira transformação estrutural: corredores rodoviários aprimorados, acesso facilitado à logística internacional e um novo canal para exportações. Dessa forma, MS ganha competitividade para seus produtos, sobretudo carnes e commodities agropecuárias.


Cronograma de 2025
Logo em janeiro deste ano, a ponte entre Porto Murtinho e a paraguaia Carmelo Peralta precisou incorporar alternativas para lidar com o calor extremo da região. Junto ao concreto, foi incorporado gelo, de acordo com as informações do MOPC-PY (Ministério de Obras Públicas e Comunicações do Paraguai).

Conforme o MOPC-PY, a técnica de incorporar gelo ao concreto garante sua correta hidratação e resistência. Isso evita o endurecimento prematuro, garantindo a qualidade do material em cada etapa da construção e evitando rachaduras na estrutura.

Entre fevereiro, Campo Grande sediou o Seminário Internacional da Rota Bioceânica e o 6º Foro de los Gobiernos Subnacionales del Corredor Bioceánico, promovido pelo Comitê Gestor dos Municípios.

O evento reuniu autoridades da área de infraestrutura para encontros das comissões técnicas, além de contar com estandes de exposição dos países envolvidos e apresentações culturais.

O fórum priorizou aduanas e unificação de regras para garantir trânsito eficiente de cargas na rota internacional.

Previsões de conclusão
O governador Eduardo Riedel (PP) ainda afirmou que pretende entregar, ainda durante o primeiro mandato, uma das principais vitrines de sua gestão: a integração de Mato Grosso do Sul à Rota Bioceânica. Em abril, ele declarou que o Estado investiu R$ 2 bilhões na pavimentação de rodovias para ligar trechos à rota. Ele prevê que o corredor comece a operar em 2027.

Um dos exemplos é a BR-060, entre Campo Grande e Sidrolândia, que passará por duplicação estratégica para acesso à rota. Em Amambai, a prefeitura desapropriou 35,2 hectares de áreas no município para a construção de um anel viário da Rota Bioceânica.

O projeto do Contorno Viário de Amambai faz parte de um investimento total de US$ 7.067.400,00. Sendo assim, o montante é composto por uma contribuição do Focem (Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul), que destinará US$ 5.100.000 na forma de doação.

Em Porto Murtinho, a Secretaria de Obras homologou licitação para asfaltar a zona rural do município, na região onde passará a Rota Bioceânica. Com recursos do MIDR (Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional), a Águia Construtora LTDA venceu o certame por R$ 1.480.058,92.

Campo Grande
Campo Grande está desenvolvendo aplicativo para auxiliar turistas e motoristas profissionais que irão passar pela Rota Bioceânica. Sendo assim, a ferramenta terá informações sobre rotas gastronômicas, industrialização, agronegócios e até PIB (Produto Interno Bruto).

No aplicativo, moradores e visitantes conhecem cidades da rota e encontram agenda cultural, lazer, exposições, restaurantes e turismo em Campo Grande.

Ainda neste ano, a Câmara Municipal de Campo Grande reuniu moradores, empresários, representantes do setor produtivo, da sociedade civil e vereadores para discutir o protagonismo da Capital na Rota Bioceânica.

Além disso, a audiência pública destacou o papel de Cidade Morena no desenvolvimento econômico e na integração internacional do corredor rodoviário.

Avanços no fim do ano
Em dezembro, Mato Grosso do Sul e Entre Ríos anunciaram porto multifuncional em Porto Murtinho, com investimento de R$ 180 milhões da PTP Group. Em suma, a delegação estrangeira entregou ao governador Eduardo Riedel e ao secretário Jaime Verruck o licenciamento ambiental e a licença de instalação do empreendimento, que representa um investimento estimado de R$ 180 milhões pela empresa PTP Group.

Com início das obras previsto para o próximo ano, o novo porto — capaz de operar fertilizantes, grãos e contêineres — integrará a hidrovia Paraguai-Paraná à Rota Bioceânica, reforçando a transição logística em curso no Estado. Logo, Porto Murtinho deverá contar com três portos em operação, consolidando-se como um ponto estratégico para o escoamento e recebimento de cargas.

O projeto integra um conjunto maior de investimentos do PTP Group, operador portuário com atuação no Paraguai, Argentina, Uruguai, Espanha e Brasil. Ou seja, a expectativa é transformar a região em um hub logístico, ampliando tanto a exportação de produtos como minério e grãos quanto o fluxo de importação via hidrovia, fortalecendo a conexão entre Mato Grosso do Sul e Entre Ríos e impulsionando o desenvolvimento econômico da fronteira.


Segurança para evitar ‘corredor do tráfico’
Durante o 2° Fórum Centro-Oeste de Segurança Rodoviária, realizado em Campo Grande, o ministro João Carlos Parkinson de Castro, coordenador nacional dos Corredores Bioceânicos pelo Ministério das Relações Exteriores, anunciou que previa a instalação de um centro integrado de segurança na cidade, com atuação descentralizada das forças de Mato Grosso do Sul, responsáveis pela rapidez e efetividade nas ações. A medida surgiu diante da necessidade de impedir que a Rota Bioceânica se tornasse um corredor para o tráfico de drogas, beneficiando o crime organizado.

O ministro explicou que o núcleo de monitoramento reuniria forças estaduais e federais e que a sede de controle seria localizada em Campo Grande. Logo, ele destacou que a implementação do centro não exigiria recursos adicionais para a construção de uma nova sede, pois já havia estrutura disponível para abrigar a central de controle. Ele ressaltou que a integração buscava maior eficiência na articulação das forças de segurança.

Fiscalização na fronteira
Parkinson informou que analisam criar espaços de prisões provisórias na fronteira para encaminhar indivíduos envolvidos em delitos. Ele enfatizou que a resposta imediata a ocorrências na rota não dependeria de Brasília, por exemplo, as forças estaduais responsáveis pela linha de frente, enquanto as federais atuariam em apoio estratégico.

O ministro detalhou que o papel da Polícia Federal e da PRF (Polícia Rodoviária Federal) se concentraria na cooperação internacional e no fornecimento de dados. Contudo, ele explicou que a articulação com os demais países do corredor será de competência federal, enquanto as forças locais lidariam com atribuições do dia a dia, por exemplo, o combate ao tráfico de drogas, fiscalização de trânsito e socorro a acidentes.

Na prática, Parkinson de Castro informou que já havia sido criada uma mesa de segurança temática reunindo polícias dos quatro países e que havia planos para uma mesa de saúde para atendimento a acidentes. Por fim, ele destacou que estavam sendo levantados equipamentos e recursos humanos da PF, PRF e bombeiros, além de treinamento necessário para garantir que todos pudessem intervir de forma eficaz quando necessário.

O que já está mudando em MS
Mato Grosso do Sul tem vivenciado um novo ‘boom’ imobiliário nos últimos anos. Pesquisas apontam que o crescimento está diretamente relacionado a investimentos em infraestrutura, logística e indústrias, como a criação da Rota Bioceânica.

Em 2024, o Estado registrou um aumento de 15% nos lançamentos habitacionais, contemplando tanto empreendimentos verticais quanto horizontais, segundo levantamento da Acomasul (Associação dos Construtores de Mato Grosso do Sul).

Logo, a construção da ponte entre Carmelo Peralta, no Paraguai, e Porto Murtinho, no Brasil, é considerada a principal obra da Rota Bioceânica, um marco para o setor da construção civil. Para o presidente da Acomasul, Josimar Romeiro da Silva, esse avanço demanda uma série de investimentos em infraestrutura rodoviária e habitacional.

Integração internacional
O Governo Federal detalhou, no Relatório 2024 do projeto Rotas de Integração Sul-Americana, informações sobre 190 obras espalhadas pelos 11 estados fronteiriços. A Rota Bioceânica, que passa por Mato Grosso do Sul, faz parte deste ‘megaprojeto’.

O documento traz o mapeamento do status de atuação da administração pública federal nas regiões de fronteira do Brasil com os vizinhos sul-americanos. Em MS, a Rota 4 ainda tem três frentes que continuam com obras em execução.

A ponte binacional Brasil-Paraguai, sobre o Rio Paraguai, entre Porto Murtinho e Carmelo Peralta (PY);
O contorno rodoviário para acesso à ponte, na BR-267, em Porto Murtinho;
E o asfaltamento de trecho de 225 km na Picada 500, estrada de terra no Chaco paraguaio, que dá seguimento à rodovia brasileira.

O restante desse ramal está pronto: no Brasil, no Chaco do Paraguai, na subida da Cordilheira dos Andes na Argentina e no Deserto do Atacama do Chile. Portanto, melhorias e adaptações ainda serão necessárias nas aduanas e na ponte binacional sobre o Rio Pilcomayo, entre Pozo Hondo (Paraguai) e Misión La Paz (Argentina).

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