Mais de 3,7 milhões de mulheres foram vítimas no último ano; poucas denunciam e maioria desconhece direitos
Por: Tiago Pires

A violência contra a mulher no Brasil permanece alarmante e, ainda mais grave, acontece quase sempre diante de outras pessoas. Um levantamento nacional revelou que 3,7 milhões de brasileiras sofreram agressões nos últimos 12 meses — e 71% foram violentadas na frente de testemunhas.
Entre essas situações, sete em cada dez ocorreram na presença de crianças, o que representa quase 2 milhões de crianças expostas à violência doméstica. Mesmo assim, 40% das vítimas não receberam qualquer tipo de apoio no momento da agressão, segundo o estudo.
Pesquisa inédita aponta cenário preocupante
Os dados fazem parte da nova edição do Mapa Nacional da Violência de Gênero, realizado pelo Observatório da Mulher contra a Violência (OMV) em parceria com o Instituto Natura e a organização Gênero e Número.
Ao todo, 21.641 mulheres foram entrevistadas por telefone de todos os estados e do Distrito Federal.
Ciclo que se repete e dura anos
A pesquisa mostra que a violência não é pontual:
58% das entrevistadas disseram sofrer agressões há mais de um ano.
Pesquisadores afirmam que a dependência financeira, o medo e a ausência de suporte tornam a vítima prisioneira da situação. Além disso, a exposição contínua de crianças ao ambiente agressivo pode gerar traumas, medo, transtornos psicológicos e normalização da violência.
Apoio emocional chega antes da denúncia
Mesmo após sofrerem agressões, a maior parte das mulheres não procura primeiro o sistema de justiça ou proteção pública. A busca inicial costuma ser emocional ou religiosa:
58% buscaram ajuda na família
53% recorreram à igreja
52% contaram com amigos
Apesar disso, apenas 28% registraram boletim de ocorrência, e somente 11% ligaram para o 180, canal oficial de denúncia e orientação.
Entre mulheres com vínculo religioso, o acolhimento espiritual se destaca:
70% das evangélicas procuraram ajuda na igreja, enquanto 59% das católicas recorreram à família.
Lei Maria da Penha ainda é desconhecida
Embora seja o principal instrumento legal de proteção, a Lei Maria da Penha ainda não é totalmente compreendida pela população feminina:
67% afirmam conhecer apenas superficialmente
11% dizem não conhecer a lei
O desconhecimento é maior entre mulheres com menor escolaridade e renda e entre idosas.
Mesmo assim, 75% acreditam que a legislação protege — totalmente ou em parte — mulheres vítimas de violência.
Serviços de proteção mais lembrados
As instituições mais conhecidas pelas entrevistadas foram:
👮 Delegacias da Mulher — 93%
⚖️ Defensorias Públicas — 87%
🏛️ CRAS/CREAS — 81%
☎️ Ligue 180 — 76%
🏠 Casas Abrigo — 56%
👩⚖️ Casa da Mulher Brasileira — 38%
🚨 Se você está em situação de violência, procure ajuda
📞 180 — atendimento 24h, gratuito e sigiloso
🚨 190 — emergência policial
🏛️ Delegacia da Mulher ou delegacia mais próxima
🏠 Casas Abrigo e Casa da Mulher Brasileira (quando disponível)
